Em busca da fórmula do emprego para pessoas com mais de 60 anos
O aumento forçado do contingente de trabalhadores de cabelos brancos traz muitas perguntas ainda sem resposta definitiva. Onde essas pessoas vão trabalhar? Como deverá ser a adaptação das empresas? De que forma sexagenários e septuagenários conseguirão se manter produtivos? Como absorver jovens e idosos ao mesmo tempo?
Especialista no tema do trabalho, o sociólogo José Pastore, professor da Universidade de São Paulo (USP), vê um imenso desafio pela frente. Além da premissa de a economia crescer para que os empregos sejam gerados, seriam necessárias reformas adicionais em outras áreas, a exemplo do que ocorreu em mercados mais maduros, como nações da Europa e o Japão. Uma necessidade será adaptar a legislação que rege as relações de trabalho, sustenta Pastore.
– Nesses países, foram feitas várias inovações, criando modalidades de contratações, como o trabalho intermitente, o trabalho casual, por hora. Com essas mudanças na legislação trabalhista, essas nações conseguiram acomodar melhor os idosos, mas isso não quer dizer que conseguiram resolver o problema – observa.
Empreendedorismo e novas formas de emprego crescerão no futuro
Como a evolução na área da saúde tem levado ao aumento da longevidade, os trabalhadores também devem ter vitalidade maior a despeito de idade mais avançada. Mesmo assim, o futuro do trabalho não será necessariamente assalariado e com carteira assinada, alerta Wolnei Tadeu Ferreira, diretor da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH). Formas alternativas de trabalho deverão crescer:
– As pessoas mais qualificadas poderão optar pelo empreendedorismo, oferecer seu conhecimento com consultoria ou dando aula. Quem é mais de baixa renda também pode ser um microempreendedor e desenvolver uma atividade na sua residência, na área de alimentação, como marceneiro, motorista, algo paralelo que dê uma renda capaz de complementar a aposentadoria. Uma pessoa poderá trabalhar para vários contratantes – exemplifica Ferreira.
Especializado em mercado de trabalho, o pesquisador Bruno Ottoni, da Fundação Getulio Vargas, avalia que essa será uma transição que outros países já experimentaram e pela qual o Brasil também deve passar. Com o aumento da expectativa de vida, a capacidade laboral dos brasileiros também será mais longeva, avalia Ottoni. Mesmo assim, será uma adaptação que deve gerar desconforto.
Quem atua no mercado financeiro poderá ter de virar motorista do Uber, e quem vive nas capitais talvez tenha de se mudar para o interior em busca de colocação, afirma.
– Os brasileiros se aposentam muito cedo. A média no Brasil, no sistema geral, é de 59 anos. Na Coreia do Sul, por exemplo, é de 61, e nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), de 64 anos. Com 50 anos, a pessoa está no auge da produtividade – diz Ottoni.
Giácomo Balbinotto, professor de economia do trabalho da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, observa que a tendência para as próximas décadas, com a incorporação cada vez mais rápida da tecnologia, será a exigência de níveis de conhecimento mais elevados para garantir colocação, mas com espaço para atributos como experiência e capacidade intelectual.
Nova geração precisará de constante habilidade para lidar com tecnologia
Para isso, salienta, será necessário um grande salto na qualidade da educação, além da premissa de a economia crescer.
– Aposentadoria não deveria ser uma finalidade, mas algo que, por uma deficiência para o trabalho, como intelectual, visual ou motora, a pessoa tenha dificuldade de exercer o seu ofício, e que, com isso, não tenha condições de obter renda. E esse não é o caso de uma pessoa de 50 anos – afirma Balbinotto.
Diante do desafio à frente, Balbinotto sustenta que as gerações que serão a população madura do futuro devem, principalmente, ¿aprender a aprender¿ para não ficarem obsoletas e poderem se adaptar com maior naturalidade às constantes mudanças impostas pela tecnologia.
Trabalhadores e patrões terão de se adaptar
O desafio de moldar o mercado de trabalho do futuro, quando o país terá mais pessoas com rugas e uma proporção menor de gente com espinhas, será das empresas e de quem busca colocação. Ter tarefas feitas a distância, oferecer diferentes pacotes de benefícios de acordo com a faixa etária dos colaboradores e criar formas de amenizar os choques entre as diferentes gerações são alguns pontos discutidos em seminários e congressos da área, afirma Wolnei Tadeu Ferreira, diretor da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH).
– As pessoas mais maduras devem ser consideradas porque têm conhecimento e bagagem cultural valiosa. Podem passar a ser instrutores, multiplicadores de conhecimento. Podem não ter o mesmo vigor e vitalidade, suportarem cargas horárias elevadas, mas podem fazer as tarefas com mais habilidade – exemplifica Ferreira.
Pesquisador da área de mercado de trabalho, Bruno Ottoni, da Fundação Getulio Vargas (FGV), entende que as empresas serão forçadas a investir mais em reciclagem e requalificação dos seus quadros.
A atualização será essencial para que os trabalhadores mantenham-se produtivos e competitivos.
– As empresas vão ter de entender que pessoas com experiência têm valor no mercado de trabalho – afirma Ottoni. Mudanças tecnológicas geram outro desafio O sociólogo José Pastore, da Universidade de São Paulo (USP), observa que, com a queda da taxa de natalidade, uma proporção menor de jovens no ingresso do mercado de trabalho deve ajudar um pouco a aliviar a concorrência com os mais idosos (que permanecerão mais tempo ocupando seus espaços), mas o ritmo das mudanças tecnológicas vai lançar um desafio para toda a sociedade.
– Se o país não oferecer educação de qualidade, essas pessoas depois não terão condições de se ajustarem nessa transição – alerta Pastore.
Conforme o especialista, diversos estudos sugerem que, nas próximas décadas, várias profissões podem ser extintas. Pelo lado do trabalhador, as necessidades serão semelhantes: reciclar-se, estudar, manter- se capacitado e atualizado para não ser engolido pela evolução tecnológica.
Fonte: Diário Catarinense
Por: GABRIELE DUARTE E CAIO CIGANA